Falta de dólares e escassez de combustível: tentativa de golpe na Bolívia ocorre em meio a crise no governo de Luis Arce

Insurreição foi liderada por ex-comandante do Exército, afastado e preso após ameaçar o ex-presidente Evo Morales, ex-aliado de Arce. Luis Arce, pesidente da Bolívia, nomeia novos chefes das Forças Armadas após tentativa fracassada de golpe, em 26 de junho de 2024
Josue Cortez/Reuters
O presidente da Bolívia, Luis Arce, enfrenta sua pior crise após a tentativa fracassada de golpe de Estado que aumentou ainda mais a tensão no país, abalado pela falta de dólares e a escassez combustível.
Na tarde de quarta-feira (26), tanques do Exército e militares armados, comandados pelo então comandante do Exército do país, Juan José Zúñiga, chegaram a invadir o Palácio Quemado, a antiga sede do governo que ainda é símbolo do Executivo boliviano.
Logo após a invasão, o presidente boliviano, Luis Arce, foi pessoalmente até o local — ele estava no prédio ao lado, a Casa Grande del Pueblo, onde hoje funciona a sede do governo.
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A rebelião dos militares aconteceu em um cenário de turbulências na economia, devido à escassez de dólares, que afeta as importações, e de combustíveis, o que irrita os sindicatos de transporte de carga.
“Nós, bolivianos, precisamos trabalhar para levar o país adiante, e não de revoltas que prejudicam a imagem da democracia boliviana internacionalmente e geram incertezas desnecessárias”, escreveu Arce nas redes sociais.
Como pano de fundo também está a disputa entre Arce e o seu mentor político, o ex-presidente Evo Morales pela candidatura para as próximas eleições gerais de 2025, que definirão um novo mandato presidencial de cinco anos.
Presidente da Bolívia discute com comandante do Exército acusado de tentar golpe
Antes de assumir a presidência do país, Arce chegou a ser ministro da Economia e Finanças durante o governo de Evo Morales, com quem tinha uma relação de amizade.
Como ministro, ele conseguiu não só reduzir a inflação e viver um boom econômico, mas também reduziu significativamente a pobreza.
O político era considerado o “pupilo” do ex-presidente boliviano, mas a aliança entre eles foi rompida por causa das eleições presidenciais de 2025.
Morales será o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido no qual Arce fazia parte antes de ser expulso.
General golpista
Zúñiga entrou na disputa política depois de expressar, na segunda-feira, sua veemente oposição ao eventual retorno ao poder de Morales, que disputa com Arce a liderança do MAS.
Em uma entrevista a um canal de televisão, ele afirmou que Morales seria detido se insistisse em apresentar a candidatura à presidência no próximo ano.
O movimento golpista culminou, na quarta, com tanques nas ruas e com Zúñiga na porta do palácio presidencial. Um dos veículos tentou derrubar porta do edifício.
Luis Arce e Evo Morales em encontro em Buenos Aires, em 7 de fevereiro de 2020
Agustin Marcarian/Reuters
As tropas rebeldes se posicionaram diante da sede do governo, no centro de La Paz, antes da retirada.
Zúñiga também deixou o local e foi detido. O general foi levado para uma delegacia de polícia, ao lado do comandante geral da Marinha da Bolívia, o vice-almirante Juan Arnez Salvador.
Os dois foram acusados pelo Ministério Público por crimes de terrorismo e insurreição armada.
Depois de várias horas, o cenário acalmou com o retorno dos soldados aos seus quartéis e a detenção dos dois comandantes militares.
Nas últimas horas, o Palácio de Governo divulgou o áudio de uma conversa entre Arce e Zúñiga na entrada do palácio presidencial, ambos cercados por militares.
Arce repreende o general: “Eu sou seu capitão, volte atrás em suas ordens e leve toda a polícia militar para seus quartéis. Retire todas estas forças neste momento, general. É uma ordem geral, não vai me ouvir?”. Em seguida, Zúñiga respondeu apenas com um “não” taxativo.
Arce divulgou uma mensagem na rede social X durante a noite: “Vamos defender a democracia e a vontade do povo boliviano, custe o que custar”.
Ele agradeceu aos países que “condenaram de maneira enérgica e se pronunciaram a favor da democracia boliviana, diante da tentativa de golpe de Estado contra o nosso governo”.
Juan José Zúñiga é apresentado após prisão por tentativa de golpe de Estado, na Bolívia
Juan Karita/AP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou “qualquer forma de golpe de Estado” na Bolívia na rede social X.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro também criticou a tentativa de golpe.
Acusação do general
Pouco antes de ser levado para uma delegacia, Zúñiga alegou que o movimento teria sido combinado com o presidente Arce no último domingo, que teria proposto “preparar algo para aumentar a sua popularidade”,sem revelar detalhes.
“É absolutamente falso e são coisas que considero inconcebíveis”, respondeu horas depois a ministra da Presidência, María Nela Prada, braço-direito de Arce.

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