Desafiador, presidente americano resiste aos apelos de partidários para que desista da campanha e se submete diariamente ao julgamento público para mostrar-se apto a assumir o cargo por mais quatro anos. A campanha presidencial americana gira, há 12 dias, em torno de um só tema — o declínio da saúde de Joe Biden e dúvidas sobre a sua capacidade para liderar o país por mais quatro anos. Em todas as aparições, desde o fatídico debate eleitoral com Donald Trump, o presidente vem sendo dissecado minuciosamente pelo rigoroso julgamento da opinião pública, atenta por conferir se ele articulou sentenças corretamente, se foi coerente ou confuso, se a voz tremeu, se parecia apático ou vigoroso.
O opositor Trump passou para o segundo plano; Biden virou o seu próprio e maior adversário na disputa eleitoral de novembro. O presidente resiste às pressões de seus partidários e deu todos os sinais de que não vai renunciar à candidatura. Escreveu carta aos democratas, concedeu entrevistas, falou de improviso, esbravejou contra as elites do partido e desafiou seus partidários a concorrerem contra ele. “Eu não vou a lugar nenhum”, repetiu.
Estrategistas democratas o veem como negacionista e já dão como perdida a tentativa de Biden derrotar Trump e reeleger-se como o presidente mais idoso da História dos EUA. Multiplicam-se os apelos para que ele desista enquanto é tempo. “Biden não está vencendo esta corrida. É mais provável que ele perca por uma margem esmagadora do que ganhe por pouco em novembro”, previu David Axelrod, que comandou a campanha de Barack Obama, na CNN.
Ao que tudo indica, Biden conseguiu sufocar a rebelião interna e os claros indicativos de fraturas entre congressistas democratas que expressaram preocupações sobre a sua permanência na chapa eleitoral. Sete deputados e um senador democratas o fizeram publicamente e uma boa parte em privado, em encontros realizados nesta terça-feira.
Após as reuniões, aparentemente o presidente parecia ter obtido o apoio e a lealdade de seus partidários para prosseguir a campanha na liderança da chapa. O tema, porém, ainda está muito longe do
consenso, à espera do próximo teste público do presidente, como ocorreu na terça-feira ao falar em Washington aos parceiros da Otan. Como ressaltaram de imediato os analistas, este não valeu, porque ele leu o discurso com a ajuda do teleprompter.
Os principais jornais pedem insistentemente o afastamento de Biden. Pesquisas indicam que 74% dos americanos acham que o presidente está velho demais para levar adiante outro mandato e que Trump assumiu a vantagem em estados cruciais após o debate eleitoral.
A exposição da acuidade mental de Biden facilitou o trabalho do ex-presidente e candidato republicano e deu conforto à sua campanha. Num comício em seu campo de golfe, num subúrbio de Miami, nesta terça-feira, Trump proferiu as habituais mentiras e debochou dos adversários:
“O Partido Democrata de esquerda radical está dividido no caos e passando por um colapso total porque não consegue decidir qual dos seus candidatos é mais inadequado para ser presidente: o sonolento e corrupto Joe Biden ou a risonha Kamala.”
A campanha de Biden e a Casa Branca tentam seguir adiante e apagar os estragos do debate eleitoral, que deu aos americanos mais nitidez sobre o estado do presidente e pôs em xeque o futuro político do país.
“Queremos virar a página. Queremos chegar ao outro lado disso”, afirmou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, que nos últimos dias vem enfrentando exaustivas sabatinas sobre a saúde de Biden. O verso dessa página, porém, se antevê sombrio e incerto e deverá permear a campanha democrata até a hora do voto.
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Alex Lorel
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