Falta de cuidado é violência que compromete a velhice negra

Falta de cuidado é violência que compromete a velhice negra

Estudos mostram que uma vida sob os efeitos negativos do racismo torna a Doença de Alzheimer prevalente entre afrodescendentes. As desigualdades sociais se encarregam de forjar velhices bem diferentes e a data de hoje – Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa – é uma boa oportunidade para falar da violência contra a população negra que, desde cedo, coleciona investidas contra seu bem-estar. Estudo apresentado em 2021 por Roudom Ferreira Moura, doutor em epidemiologia pela USP, mostrava que os idosos negros na cidade de São Paulo tinham piores condições de renda, escolaridade, hipertensão e acesso a serviços privados que os brancos. Também avaliavam sua saúde negativamente: 47,2% dos pretos e 45,5% dos pardos descreveram seu quadro como regular, ruim ou muito ruim, enquanto, entre os brancos, foram 33%.
População negra: falta de cuidado compromete a velhice e aumenta risco de morte prematura
Ace Spencer para Pixabay
Reportagem impecável dos jornalistas da Associated Press, que coletaram dados ao longo de 2022, constatou que os afrodescendentes norte-americanos têm piores índices em todos os quesitos relacionados à saúde: de mortalidade materna e infantil a dificuldades para conseguir tratamento para distúrbios mentais. Alguns dos dados:
14,8% dos bebês negros nasceram prematuramente em 2021, um percentual acima de qualquer outra etnia.
18% dos jovens negros relatam serem expostos a um trauma racial com frequência, sendo que 50% enfrentam sintomas de depressão de moderados a severos. Uma vida sob os efeitos negativos do racismo torna a Doença de Alzheimer prevalente no grupo.
14% dos negros americanos acima dos 65 anos têm Alzheimer, em comparação com 10% dos brancos. A expectativa é de que o número de casos quadruplique até 2060.
75% dos afrodescendentes norte-americanos têm chances de desenvolver um quadro de hipertensão aos 55 anos.
O racismo estrutural afeta o paciente negro. James Sims era um cirurgião norte-americano do século XIX que chegou a ser conhecido como o pai da moderna ginecologia. Numa época em que era tabu examinar os órgãos femininos, desenvolveu uma técnica para corrigir a fístula vesicovaginal (uma comunicação anormal entre a bexiga e a vagina) realizando cirurgias sem anestesia em mulheres escravizadas. Só depois passou a operar mulheres brancas, essas devidamente sedadas. A crença de Sims de que negros conseguiam suportar melhor a dor persiste até hoje entre alguns profissionais de saúde.
Estudo da Tulane University sustenta que os negros que vivem nos EUA têm um risco de morte prematura 59% maior que os brancos. A desigualdade pode ser explicada pelas disparidades em oito áreas críticas: renda, emprego, segurança alimentar, escolaridade, acesso à saúde, qualidade do seguro saúde, casa própria e estado civil. São conhecidas como determinantes sociais de saúde (SDOH na sigla em inglês). Os pesquisadores utilizaram as informações de um levantamento nacional para determinar a prevalência e o risco de doenças no país. Quando aplicavam filtros nos quais os determinantes desfavoráveis deixavam de existir, a disparidade era reduzida a zero.
Ter apenas um determinante social desfavorável dobra as chances de uma pessoa ter morte prematura. Com seis ou mais, o risco é multiplicado por oito.
“Não há diferença entre a morte prematura de brancos e negros depois de excluirmos os determinantes. Simplesmente desapareceu”, afirmou Josh Bundy, epidemiologista e principal autor do trabalho, acrescentando: “isso sugere que sejam os alvos primários para eliminar as disparidades na saúde”.

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