Presidente do TSJ, Caryslia Beatriz Rodríguez ocupou cargos políticos e militou no partido chavista. Presidente Nicolás Maduro em coletiva de imprensa com jornalistas estrangeiros
Reprodução/Reuters
Autoproclamado reeleito no pleito sem transparência, que teve repúdio interno e internacional, Nicolás Maduro apelou ao Tribunal Supremo de Justiça para auditar as eleições de domingo passado e investigar os supostos ataques cibernéticos sofridos ao sistema.
Assim como ocorre no Conselho Nacional Eleitoral, o presidente venezuelano atua em campo aliado.
Com 12 juízes, o órgão é questionado como dependente do regime. Sua presidente, a juíza Caryslia Beatriz Rodríguez, que assumiu o cargo em janeiro passado, foi prefeita de Caracas pelo Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) e ocupou outros cargos políticos ligados ao chavismo.
Advogada, Rodríguez era militante de carteirinha e definiu-se, numa entrevista, como “leal ao Comandante Hugo Chávez, ao presidente operário Nicolás Maduro e aos projetos para a construção do socialismo”. É dela uma frase emblemática: “O melhor país para viver feliz e tranquilo é a Venezuela.”
Rodríguez também preside a Câmara Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça, que suspendeu as primárias da oposição, realizada em outubro passado, na qual María Corina Machado foi eleita com 90% dos votos, e ratificou a ilegibilidade da líder opositora.
Não causa estranheza ter partido do TSJ as primeiras manifestações de apoio a Maduro, no domingo, felicitando-o pelo terceiro mandato e pela transparência do voto.
Diante disso, o apelo de Maduro pela auditoria da eleição presidencial tem notas claras de hipocrisia pela sua proximidade com o tribunal. “Eu me lanço diante da Justiça. Estou disposto a ser convocado, interrogado e investigado”, disse ele na sede do Supremo. Observadores internacionais, como o Centro Carter, não compraram a iniciativa do regime de produzir uma revisão independente.
“Não é uma avaliação independente. Você tem outra instituição governamental, que é nomeada pelo governo, para verificar os números do governo para os resultados das eleições, que estão em questão”, assegurou Jennie K. Lincoln, que liderou a delegação da entidade à Venezuela.
O tribunal passou por uma reforma em janeiro de 2022, aprovada pela Assembleia Nacional, também controlada pelo regime, que reduziu o número de juízes de 32 para 20. O Legislativo nomeou os novos juízes, dos quais apenas dois são alinhados a grupos de oposição. A Venezuela ocupa, por oito anos seguidos, o último lugar entre 142 países na avaliação do World Justice Project, uma organização internacional que trabalha para promover o Estado de Direito.
Por todas as críticas à isenção do sistema, é difícil digerir o conselho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à oposição venezuelana para apresentar recursos na Justiça, caso não concorde com as atas de votação, que sequer foram apresentadas pelo regime.
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Alex Lorel
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