Candidatos, que nunca se encontraram ao vivo, fizeram primeiro enfrentamento com tomTrump deve apostar em temas como economia e imigração. Kamala, que passou o fim de semana reclusa em preparação, deve adotar tom mais agressivo, mas corre mais riscos, segundo especialista. Trump e Kamala fazem nesta terça (10) o primeiro debate entre eles na eleição para a presidência dos EUA
Eduardo Munoz, Nathan Howard/Reuters
O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, os dois principais candidatos nas eleições dos Estados Unidos, realizado na noite desta terça-feira (10), começou com trocas de acusações entre as gestões alheias sobre economia e imigração, os dois temas centrais da corrida à Casa Branca.
O enfrentamento, que acontece na Filadélfia, foi também o primeiro encontro entre o republicano e a democrata, que nunca haviam ficado frente em frente ao vivo.
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Em tom mais agressivo, como vinha sendo esperado, Kamala Harris investiu em ataques a Trump. A atual vice-presidente dos EUA disse ter passado os quatro últimos anos “limpando a bagunça de Donald Trump”, acusou o ex-presidente de deixar o governo com altas taxas de desemprego e criticou sua gestão da pandemia, em 2019, quando era presidente dos EUA.
Disse, repetidas vezes, que o candidato republicano mente com frequência. Foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre aborto, um dos temas que, segundo pesquisas, ela domina mais que Trump. Disse que seu adversário vai liderar um “plano nacional para banir o direito ao aborto”, o que Trump negou.
Para Kamala Harris, o debate é a primeira e, talvez, única oportunidade de se apresentar para o público geral e de tentar fazer chegar ao eleitorado de Trump o discurso de que seu rival, um bilionário, só governará para si mesmo, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, seguirá pensando no povo.
Ao responder à primeira pergunta, sobre economia, disse que “vim da classe média e seguirei governando para a classe média”, enquanto Trump “governará para ele mesmo”. No entanto, a democrata se esquivou ao ser questionada por um dos dois mediadores sobre se a oconomia do país estava melhor agora do que há quatro anos, quando o governo do qual ela faz parte assumiu, e disse apenas que reduzirá taxas para a compra de imóveis.
Trump, conhecido e experiente em debates, deve apostar forte em temas como a economia — principal ponto de preocupação entre eleitores dos dois lados, segundo pesquisas de intenção de voto — e imigração.
Donald Trump apostou no discurso anti-imigração já em sua primeira resposta, também sobre economia, repetindo o discurso de que o país foi “invadido” por “pessoas vindas de prisões e manicômios” de outros países.
O ex-presidente vem culpando Kamala, a quem o presidente Joe Biden designou parte da gestão da política migratória, pelos recordes de entrada de imigrantes ilegais registrados nos EUA desde o fim do ano passado.
A equipe de Trump também instruiu o candidato republicano a repetir o tom mais calmo e sóbrio e sem ataques pessoais que ele adotou no enfrentamento, em junho, contra o então candidato democrata, o atual presidente Joe Biden.
A atuação ruim de Biden na ocasião acabou levando à sua desistência da campanha.
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Ainda assim, especialistas também estimam que o cara a cara deve ocorrer sem grandes riscos de ambos os lados, por conta da disputa apertada entre os dois — que aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto (leia mais abaixo).
Mas também pode trazer novidades: será a primeira oportunidade de Kamala Harris, que entrou na corrida eleitoral apenas em julho, quando o presidente Joe Biden desistiu da disputa, fazer frente às constantes críticas dos republicanos.
ANÁLISE: Como Kamala e Trump podem aproveitar pontos fracos um do outro
Além de questões relacionadas à sua raça e origem levantadas por Donald Trump, ela vem sendo criticada pelos republicanos por evitar entrevistas e só falar em comícios e com discursos ensaiados.
A expectativa é que Kamala não foque sua narrativa nas questões de raça e gênero e use habilidades oratórias que conquistou durante sua carreira de procuradora-geral da Califórnia, cargo que ela conquistou através do voto público. E que explore ao máximo o discurso de que governará para a classe média, como fez quando era procuradora —além de investir em ataques a Trump.
Kamala: isolada, em treinamento
Ainda assim, a vice-presidente democrata passou o fim de semana reclusa em intenso treinamento com especialistas em debates.
Segundo a agência de notícias Associated Press, ela praticou respostas rápidas e em tom mais agressivo para fazer frente às características do debate: os dois candidatos só poderão entrar no estúdio da ABC News, emissora que organiza o enfrentamento, com uma caneta, papeis em branco e água.
Como no primeiro debate das eleições, entre Donald Trump e Joe Biden, em junho, não haverá nenhuma comunicação entre os candidatos e sua equipe — que estará fora do estúdio.
Além de ser uma prova de fogo para a candidata democrata estreante, o debate também pode ser a oportunidade de espantar o fantasma que assombra os democratas desde o enfrentamento entre Trump e Biden.
Na ocasião, o atual presidente norte-americano, também sem anotações prévias ou comunicação com sua equipe, teve um desempenho muito ruim: confundiu temas, mostrou-se apático e deu o pontapé para uma enxurrada de pedidos para que desistisse da corrida eleitoral, o que ele acabou fazendo cerca de um mês depois.
Pesquisa indica empate técnico entre Trump e Kamala
Trump: sem treinamento
Já Trump, experiente em debates e em oratória, disse que não se preparou para o enfrentamento e escolheu passar os últimos dias fazendo campanha nos chamados estados-chave, nos quais o apoio para um partido ou outro variam de acordo com as eleições.
Esse foi o principal motivo, inclusive, para que o local do debate fosse definido: o enfrentamento ocorrerá na Filadélfia, cidade na Pensilvânia, um dos estados onde o voto ainda não está definido. Nas duas últimas eleições, o partido apoiado pela maioria dos eleitores de lá foi o vencedor.
Por isso, embora historicamente os debates presidenciais dos EUA não tendem a se reverter em votos para um ou outro lado, a expectativa é que o enfrentamento desta terça rompa com essa lógica e se torne uma das peças decisivas do quebra-cabeça eleitoral dos EUA.
Como os dois candidatos aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto, o desempenho de cada um e até um desempenho mais fraco em apenas uma resposta pode definir os rumos do pleito.
O analista de mídia da Universidade de Maryland, Mark Feldstein, disse à agência de notícias AFP acreditar que, nessa equação, Kamala Harris correr mais riscos.
“Os riscos são maiores para Harris do que para Trump, porque ele já é muito conhecido, enquanto ela ainda precisa explicar quem é para a maioria das pessoas”, disse Feldstein.
Ainda assim, o analista político dos EUA Joshua Zive prevê que nem Trump nem Kamala devem se arriscar e tentar orbitar temas familiares a cada um —temas como imigração ilegal e alertas de uma “ameaça comunista”, no caso de Trump, e taxação a grandes empresas e ataques à gestão do ex-presidente republicano, no caso de Kamala.
“Nenhum dos dois têm motivos para correr grandes riscos”, disse Zive. Ele disse achar que, como as pesquisas estão muito apertadas, o pleito pode ser decidido por alguns milhares de votos.
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Alex Lorel
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