González diz que decidiu deixar Venezuela após ouvir ameaça: ‘Estão vindo atrás de você’

González diz que decidiu deixar Venezuela após ouvir ameaça: ‘Estão vindo atrás de você’

Em entrevista à Reuters, em Madri, onde está em exílio político, o candidato da oposição na Venezuela disse que deixou o país para ter ‘liberdade para buscar apoio de líderes mundiais’. Edmundo González
REUTERS/Juan Medina
“Eles estão vindo atrás de você”: segundo Edmundo González, candidato da oposição na Venezuela, esse foi o alerta que o fez decidir deixar seu país e buscar asilo político na Espanha.
Em entrevista à agência de notícias Reuters nesta sexta-feira (20), em Madri, o venezuelano, que recentemente foi reconhecido como o presidente eleito pelo Congresso espanhol e pelo Parlamento Europeu, contou que estava ameaçado pelas forças de segurança que apoiam Nicolás Maduro e disse acreditar que, se tivesse permanecido no país, estaria preso e, possivelmente, sob tortura.
“Um oficial de segurança que trabalhava comigo me chamou de lado para dizer que tinha recebido informações de que os órgãos de segurança estavam vindo atrás de mim e que era melhor me refugiar. Eu poderia ter me escondido, mas precisava ser livre para poder fazer o que estou fazendo, transmitindo ao mundo o que está acontecendo na Venezuela, fazendo contatos com líderes mundiais”, disse ele.
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González também contou que deixou a Venezuela depois de obter garantias de que sua família e seus bens estariam seguros e disse estar confiante de que uma transferência pacífica de poder ainda é possível no país, com ele como a pessoa para liderá-la.
“Quero garantir que a vontade dos 8 milhões de venezuelanos que votaram em mim em 28 de julho seja respeitada. Essa é uma decisão que já foi tomada e aspiro honrá-la totalmente”, afirmou, sobre as alegações da oposição de uma vitória esmagadora com base nas atas de votação, que não foram divulgadas.
Maduro diz que González pediu ‘clemência’
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou, nesta quinta-feira (19), que seu adversário nas eleições presidenciais lhe pediu “clemência” para conseguir sair da Venezuela e ir para a Espanha.
“Me dá vergonha alheia que o senhor Edmundo González Urrutia, que me pediu clemência, não tenha palavra com o que se empenhou e alegue sua própria inépcia e sua própria covardia para tentar salvar sei lá o que”, afirmou Maduro.
A fala de Maduro foi uma resposta à denúncia feita pelo opositor na quarta, de que teria sido coagido por autoridades venezuelanas para assinar o documento de aceite à decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, que deu vitória a Maduro em meio a uma polêmica de atas eleitorais.
A assinatura do documento, ocorrida na embaixada espanhola em Caracas, onde González estava escondido, ocorreu na presença do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente, Delcy Rodríguez –ambos aliados de Maduro. (Veja na imagem abaixo)
González disse que o documento permitiria sua saída do país e que não teve opção senão o assinar. “Ou eu assinava ou sofria as consequências. Foram horas muito tensas de coação, chantagem e pressões”, disse. Quando chegou à Espanha, González disse que deixou a Venezuela para evitar um conflito.
Edmundo González (ao fundo) na embaixada da Espanha em Caracasm, acompanhado da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez (à esq), e do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez (careca), assinando documento reconhecendo vitória de Maduro na eleição. Assinatura ocorreu no início de setembro.
Reprodução/Jorge Rodríguez
González foi rebatido por pelo presidente da Assembleia Nacional venezuelana, que o chamou de mentiroso e disse que o opositor assinou por vontade própria o documento reconhecendo a vitória de Maduro.
A decisão do TSJ – instância máxima do Judiciário venezuelano e alinhado a Maduro – que reafirmou a vitória do presidente na eleição, referendando o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral, é contestada pela comunidade internacional, que também exige a publicação das atas eleitorais.
No primeiro pronunciamento após González deixar o país, o presidente Nicolás Maduro falou sobre o opositor em tom de despedida, desejou a ele “sorte em sua nova etapa da vida” e disse que agora “o país está tranquilo”. O presidente venezuelano acrescentou que ele participou pessoalmente das negociações para González deixar o país.
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Perseguição após eleições
A Venezuela vive um impasse desde a eleição presidencial, ocorrida em 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano declarou o presidente Nicolás Maduro vencedor da eleição, em resultado contestado pela oposição e pela comunidade internacional por falta de transparência –as atas eleitorais, que comprovariam o resultado, não foram publicadas até o momento.
Dias depois, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) referendou o resultado anunciado pelo CNE e proibiu a divulgação das atas. Tanto o TSJ quanto o CNE são alinhados ao governo Maduro.
Edmundo González foi o candidato da oposição na eleição e enfrentou Maduro nas urnas. A oposição, liderada por María Corina Machado, garante que González ele venceu o pleito com ampla vantagem, com base em cerca de 80% das atas impressas pelas urnas eletrônicas e publicadas em um site.
A ONU apontou a veracidade das atas divulgadas pela oposição. Por outro lado, o Ministério Público venezuelano, também alinhado a Maduro, disse que as atas são falsas e abriu investigação contra a oposição. Após González faltar a intimações do MP para prestar depoimento, um mandado de prisão foi expedido contra o opositor.
Temendo ser preso pelo regime Maduro, González estava escondido há mais de um mês e era considerado foragido. Em uma carta enviada ao Ministério Público ele afirmou que não ia se apresentar, pois considera que o processo contra ele não tem fundamento legal.
Investigação contra González
Edmundo González é investigado por crimes como usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais, sabotagem de sistemas e associação criminosa.
Segundo o MP, o pedido de prisão foi apresentado após González ignorar três intimações para prestar depoimento. O órgão é aliado do presidente Nicolás Maduro e controlado por chavistas.
O procurador-geral Tarek Saab afirmou que as intimações tinham como objetivo colher o depoimento de González sobre a publicação de atas impressas das urnas eleitorais em um site.
A líder da oposição, María Corina Machado, também está sendo investigada pelo Ministério Público. Na quinta-feira (5) ela se responsabilizou pela publicação das atas eleitorais em um site.

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