DA NECESSIDADE DE SEGURANÇA ARMADA EM TREINAMENTOS DE TIRO

DA NECESSIDADE DE SEGURANÇA ARMADA EM TREINAMENTOS DE TIRO

INTRODUÇÃO

Armas de fogo são inerentes à atividade policial; são ferramentas de trabalho e defesa de todo agente de segurança pública. Portanto, é importante que todos que trabalham ou portam armas de fogo tenham habilidades e segurança tanto no manuseio quanto na utilização do armamento. A habilidade inicial de manuseio e tiro é desenvolvida nos cursos de formação policial, mas é mantida e aprimorada em treinamentos contínuos durante toda a carreira de qualquer agente de segurança. Assim, aqueles que fazem parte dos quadros das carreiras policiais passarão, ou pelo menos deveriam passar, sua vida profissional atirando e efetuando treinamentos com armas de fogo.

Instruções ou aulas de armamento e tiro, em sua maioria, têm a pretensão de ensinar técnicas, passar doutrinas, nivelar um grupo, realizar treinamentos potencializadores ou de manutenção de habilidades táticas e de tiro em geral. Dentro desse contexto de treinamentos que envolvem armas de fogo, existem vários perigos inerentes a essa atividade, já que armas de fogo são objetos extremamente letais e lesivos, com altos índices de riscos de diversas naturezas. Por isso, há a necessidade de regras, protocolos e cuidados quando envolvem todo e qualquer manuseio com armas de fogo.

Os riscos em aulas ou instruções com armas de fogo podem ser endógenos ou exógenos daquele ambiente, ou seja, podem partir de alguém que esteja relacionado àquele contexto ou de pessoas de fora daquela atividade policial. Situações que envolvam quebra de segurança podem ser desde incidentes, acidentes, tiros involuntários, problemas psicológicos, psiquiátricos, vingança, roubos de armas de fogo; enfim, as possibilidades são diversas.

Em várias dessas situações, como as de incidentes, acidentes de tiro e tiros involuntários, serão minimizadas ou resolvidas com a utilização de equipamentos, munições, armas de qualidade mais confiáveis, mas principalmente com o respeito aos dogmas de segurança (controle de cano, dedo do gatilho estendido ao longo da armação quando não for atirar e considerar uma arma sempre carregada). Como também com as condutas adequadas, obediências às regras, orientações e comandos dos professores ou de quem estiver comandando a aula ou treinamento que envolva armas de fogo.

Desta forma, o respeito aos dogmas e regras de segurança, a obediência aos comandos e equipamentos de qualidade farão com que a maioria dos casos de mortes ou lesões por armas de fogo em aulas e treinamentos, que podem acontecer por imprudência, imperícia e negligência, ou seja, sem a intenção de ferir ou matar, sejam minimizadas. No entanto, se houver algum indivíduo com a intenção de matar ou ferir alguém em um treinamento que envolva armas de fogo, esses protocolos não serão suficientes para garantir a segurança.

Apesar de todas as situações anteriores serem de alto risco e complicadas, elas não envolvem violência intencional ou confrontos armados, o que tornaria a situação mais complexa, pois haveria a necessidade real de neutralização da ameaça. As situações que podem ensejar um indivíduo armado atirando em outras pessoas em um treinamento que envolva armas de fogo são várias; dentre elas, cabe elencar algumas: 1) saúde mental de policiais, 2) roubo ou furto de armas de fogo, 3) agressores ativos e 4) casos de violência ocorridos em estandes de tiro.

1.1 Saúde mental de policiais 

Uma saúde mental debilitada é algo que assola muitos policiais brasileiros, crises de ansiedade, depressão, insônia, alcoolismo são alguns dos problemas enfrentados. O aumento desses casos é algo alarmante, um enorme número de casos de suicídios e alguns casos de violências envolvendo outros colegas mostram a necessidade de um diagnóstico e de um tratamento adequado desse quadro. Seguem alguns dados e casos de situações de violência ou suicídio envolvendo policiais:

(“Saúde mental dos policiais e a necessidade de mudanças urgentes, 2023, FENAPEF”)

Na Polícia Federal foi aplicada uma pesquisa que começa a descortinar essa pressão. Ela apontou que 48% (n=143) dos policiais apresentaram desânimo quanto ao futuro, que é um dos indicadores do potencial suicida. Desses, 47 expressaram que já tiveram ideia de se matar, mas não as executariam e 2 policiais deixaram explicito o sentimento de que gostariam de se matar. A pesquisa também detectou que 49% dos policiais federais manifestaram sintomas de depressão. Os resultados encontrados na pesquisa sugerem um sinal de alerta no número de ocorrências de suicídio que é alto dentro da Polícia Federal. As pesquisadoras afirmam também, que dentro dessa perspectiva que “em todas as pesquisas sobre consequências do assédio moral no ambiente de trabalho, a violência psicológica funciona como um propulsor de doenças psicofísicas, sendo o suicídio uma das consequências mais trágicas do processo de agressão, não descartando a possibilidade da existência de possíveis homicídios”. (“Saúde mental dos policiais e a necessidade de mudanças urgentes, 2023, FENAPEF”)

(PRF vê suicídios crescerem na corporação, 2023 ,Cotidiano)

Foram ao menos 531 casos de suicídios nos últimos cinco anos se somados os dados da PRF com aqueles de PF (Polícia Federal), Polícia Militar e Polícia Civil. Os dados foram obtidos via LAI e por meio do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O número equivale a uma morte a cada três dias de policiais no país de 2017 a 2022.

Na PF, o número de suicídios passou de zero em 2022 para quatro policiais da ativa em 2023 (em 2021, foram dois casos).

Desde 2018, a PF registrou mais de 200 afastamentos por ano de servidores por motivos psicológicos e psiquiátricos. O ápice desse cenário foi visto em 2021, quando 271 servidores precisaram se afastar por essas razões. (“PRF vê suicídios crescerem na corporação, 2023, Cotidiano”)

Situação de Policial Federal matando outros colegas ocorrido em 2002 (“Agente da PF executa dois colegas no pátio da Delegacia de Tabatinga – Segurança”):

O agente da Polícia Federal Cláudio Pedrosa Pontes sequestrou e matou a tiros, na madrugada de ontem, em Tabatinga, no Amazonas, os agentes Armindo João da Silva e Guilherme Auad Mourad, também da PF. O delegado Sérgio Lúcio Fontes abriu inquérito para apurar o caso. Pelas informações iniciais, Pedrosa executou os dois depois de um acesso de fúria, aparentemente sem nenhum motivo específico. Pedrosa foi preso em flagrante e está sob custódia da Polícia Militar.

Segundo um delegado, Pedrosa estaria tentando se fazer passar por esquizofrênico, mas ainda não há um laudo médico conclusivo sobre o assunto. Mas existem indícios de que ele estava com sérios distúrbios emocionais. Pouco antes da tragédia, ele esteve numa unidade do Exército e pediu socorro. Queria que os militares o ajudassem a se livrar de uma suposta conspiração em curso contra ele, dentro da própria Delegacia da PF. (“Agente da PF executa dois colegas no pátio da Delegacia de Tabatinga – Segurança”)

Além da necessidade do diagnóstico de problemas de ordem psicológicas ou psiquiátricas, do acompanhamento e do tratamento do policial com problemas de saúde mental, também é de extrema importância o controle do porte ou acesso a armas de fogo destes profissionais, pois trate-se de elemento que pode ser um potencializador de uma crise com a possibilidade de vitimar mais pessoas.

Caso recente em que um policial civil do Ceará matou quatro colegas (“Policial civil mata quatro colegas de trabalho em delegacia, foge em viatura e depois se entrega”):

Um policial civil matou quatro colegas de trabalho nesta madrugada, em Camocim, cidade do Norte do Ceará, a cerca de 350 quilômetros de Fortaleza. A Polícia Civil lamentou o caso, e identificou as vítimas como os escrivães Antônio Claudio dos Santos, Antônio José Rodrigues Miranda e Francisco dos Santos Pereira, e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira.

As vítimas foram três escrivães e um outro inspetor da Polícia Civil. Três foram mortos dentro da delegacia e um do lado de fora. O crime aconteceu na Delegacia Regional de Polícia Civil de Camocim. (“Policial civil mata quatro colegas de trabalho em delegacia, foge em viatura e depois se entrega”)

Portanto, todos esses índices, estatísticas e casos evidenciam o quanto os policiais brasileiros em geral vêm sofrendo de transtornos relacionados à saúde mental, inclusive no Departamento de Polícia Federal. Diante disso, torna-se evidente que é uma possibilidade real que um policial possa atentar contra a própria vida ou contra a vida de colegas durante treinamentos, cursos ou aulas envolvendo armas de fogo. Por isso, é crucial que existam procedimentos de segurança que abranjam ou prevejam situações como essas, visando a proteção de todos os envolvidos.

1.2 Roubo ou furto de armas de fogo

Vem crescendo o interesse de bandidos por armas e pelo acervo de armamento e munições pertencentes aos policiais e às forças de segurança, já que obviamente a posse de armas de fogo e munições, sobretudo de grosso calibre, é uma das formas de aquisição e demonstração de força dos criminosos e do crime organizado. O roubo ou furto de materiais bélicos das forças de segurança, apesar de ousado é uma das formas acessíveis de conseguir armamento e munições. Trata-se de uma forma direta e ‘mais fácil’ de aquisição, sem a necessidade de se sujeitar à lei e à fiscalização, que muitas vezes são rígidas e impediriam o fácil acesso a armas de fogo e munições, ainda que ilegais.

(“Criminosos roubam arma de agente federal próximo à sede da PF em Belém”):

Um agente da Polícia Federal (PF) teve a arma roubada nesta segunda-feira (7) nas proximidades da sede do órgão em Belém, localizada na Av. Almirante Barroso. Segundo a PF, o policial foi abordado por três suspeitos e reagiu. Após conseguir a arma, um dos criminosos tentou atirar contra o agente, mas ele não foi atingido pelos disparos. Os assaltantes conseguiram fugir. A PF informou que deve abrir um inquérito para investigar o caso. (“Criminosos roubam arma de agente federal próximo à sede da PF em Belém”)

Caso recente de furto de armas de fogo do Exército que demonstram a ousadia do crime organizado no Brasil (“21 metralhadoras do Exército são furtadas de arsenal da base militar em Barueri, Grande SP; 13 delas podem derrubar aeronaves”):

 O Exército brasileiro confirmou nesta sexta-feira (13) o furto de 21 metralhadoras de grosso calibre que estavam dentro da sua base militar em Barueri, na Grande São Paulo.De acordo com a corporação, durante inspeção realizada na última terça-feira (10) no seu Arsenal de Guerra, os militares notaram o sumiço de 13 metralhadoras calibre .50 e de outras 8 metralhadoras de calibre 7,62. As metralhadoras .50 são conhecidas por terem poder de fogo e alcance para derrubar até aeronaves. (“21 metralhadoras do Exército são furtadas de arsenal da base militar em Barueri, Grande SP; 13 delas podem derrubar aeronaves”)

Diante disso, fica fácil pensar na possibilidade de bandidos abordarem policiais em um treinamento de armamento e tiro para roubarem as armas, sobretudo em locais onde o crime organizado é bastante atuante e/ou em cidades do interior do Brasil, onde muitos bandidos têm conhecimento do baixo efetivo das forças policiais de segurança, tornando-as mais vulneráveis a esse tipo de crime. Logo, é evidente a necessidade também de uma solução ou procedimento de segurança que dê uma resposta rápida e proporcional, caso aconteça uma situação como essa, além de todas as outras questões de segurança orgânica, como sigilo, identificação e acesso restrito de pessoas aos treinamentos de armamento e tiro.

1.3 Agressores ativos

Agressores ativos são indivíduos que têm como objetivo matar o máximo de pessoas possível, e as motivações são várias, podendo envolver questões religiosas, bullying, convicções políticas, extremismo religioso, problemas de saúde mental, entre outros. Pelo fato desse tipo de agressor visar o máximo de vítimas possíveis, acaba sendo um contrassenso alguém que queira esse intento buscar um estande de tiro onde as pessoas estejam armadas, já que dificilmente ele conseguirá vitimar muitas pessoas. Espera-se que, nesse contexto, alguém armado irá confrontá-lo rapidamente.

Diante disso, até o presente momento, não foram encontrados casos de agressores ativos atuando em estandes de tiro, pois geralmente este tipo de violência é cometido em locais que circulam muitas pessoas vulneráveis que tenham uma maior dificuldade em se defenderem, tais como igrejas, escolas, universidades.

Porém, diante do aumento expressivo destes casos no Brasil, mesmo que sejam mais em escolas, é importante que se tenham os protocolos policial e civil em mente, pois se este tipo de violência ocorrer em estandes de tiro, sobretudo em treinamentos policiais, as pessoas que ali estiverem terão melhores condições de evitar mortes e salvar o máximo de vidas possíveis.

Neste contexto, verifica-se ainda mais a necessidade de um indivíduo/professor armado ou que possa estar em condições de tiro rapidamente. Se algum agressor ativo resolver atuar naquele lugar, o policial armado terá condições de atuar segundo o protocolo policial criado e difundido pelo FBI, que preconiza ir ao encontro do agressor para neutralizá-lo e, com isso, parar a matança. Se esse tipo de violência ocorrer em algum ambiente escolar, como por exemplo, na Academia Nacional de Polícia, o protocolo civil passado e difundido pela Advanced Law Enforcement Rapid Response Training – ALERRT deverá ser adotado por servidores ou funcionários, alunos do curso de formação, enfim, pessoas que não tenham armas de fogo, treinamento ou condições de atuar para parar a matança.

Estes deverão, se possível, correr e se distanciar o máximo possível daquele local, até estarem em segurança. Assim, deverão acionar policiais ou alguma equipe da própria ANP ou da localidade que tenha treinamento e conhecimento do protocolo policial para lidar com situações de agressores, visando a neutralização da ameaça. A pessoa que estiver em segurança também deverá ligar para as unidades de saúde, bombeiros e SAMU, pois estas ficarão responsáveis pelo atendimento médico das prováveis vítimas no local.

Caso essas pessoas que não portem armas de fogo ou não tenham condições de atuar não consigam correr, elas devem procurar um local para se barricarem ou se esconderem. No entanto, se o perigo for iminente e não houver nenhuma das possibilidades anteriores, a alternativa será lutar, confrontar e, da forma que for possível, neutralizar o agressor ativo e salvar a si e as demais pessoas que poderiam ser vítimas, caso esse tipo de situação aconteça em um estande de tiro ou ambiente de treinamento policial.

1.4 Casos de violência ocorridos em estandes de tiro

Estandes de tiro, locais de treinamento que tenham ou envolvam armas de fogo precisam ter um controle de acesso somente a pessoas autorizadas e em condições para estarem naquele ambiente, pois como já foi dito, o acesso de pessoas com problemas de saúde mental ou mal-intencionadas podem potencializar uma situação de violência e crise, logo todas as medidas que possam prevenir e evitar precisam ser tomadas.  Quando estas medidas não forem suficientes, é necessário que se tenham protocolos, equipamento, pessoas treinadas e em condições de lidar e responder de forma letal imediata a uma situação que fuja ao controle, como por exemplo, um indivíduo em surto psicótico atirando em pessoas inocentes. Em seguida, alguns casos ocorridos em estandes de tiro que mostram a necessidade de controle de acesso, de ter protocolos de segurança eficientes e pessoas armadas e em condições de lidar com ameaças armadas nesses locais:

(“Assassino do caso ‘Sniper americano’ pega prisão perpétua”) :

O ex-fuzileiro naval Eddie Ray Routh, da Marinha dos Estados Unidos, foi condenado à prisão perpétua nesta terça-feira (24) pelos assassinatos de Chris Kyle, o franco-atirador que inspirou o filme “Sniper americano, e Chad Littlefield em fevereiro de 2013. Um júri popular formado por dez mulheres e dois homens declarou Routh culpado após um julgamento de duas semanas realizado na cidade de Stephenville, no estado do Texas. O ex-militar assassinou Kyle e Littlefield no dia 2 de fevereiro de 2013 em um campo de treinamento de tiro no norte do Texas, quando os dois tentavam ajudá-lo com os problemas que sofria após servir no Iraque e no Haiti. (“Assassino do caso ‘Sniper americano’ pega prisão perpétua”)

Esse caso ficou famoso por conta do militar americano Chris Kyle, que inspirou o filme e o livro Sniper Americano, ter sido assassinado por um tido “neurótico de guerra” em um estande de tiro enquanto realizam um treinamento em conjuntos. Além deste caso que ficou muito famoso, tiveram outros dois casos que chocaram a todos e causaram grandes discussões a respeito das leis armamentistas nos Estados Unidos, foi o caso de um jovem que matou três pessoas em um estande de tiro e o de uma mãe que matou o próprio filho e se matou em um estande de tiro:

(“Arrest made in connection to triple homicide at a Georgia shooting range”)

Um homem da Geórgia foi preso em conexão com um tiroteio numa carreira de tiro em Grantville, Geórgia, que resultou em três mortes no início deste mês, disseram as autoridades.

Jacob Christian Muse, de 21 anos, incorre em três acusações de “homicídio doloso” no tiroteio de 8 de abril no campo de tiro Lock Stock & Barrel, de acordo com uma declaração do Georgia Bureau of Investigations, da ATF e do Departamento de Polícia de Grantville, na sexta-feira.

Muse era cliente do campo de tiro, tendo comprado pelo menos uma arma lá e passando algum tempo no campo de tiro, disse a polícia de Grantville num comunicado de imprensa. Ele morava anteriormente na cidade, que fica a cerca de 80 km a sudoeste de Atlanta, acrescentou a polícia.

Uma força-tarefa conjunta executou um mandado de busca na casa de Muse em College Park, Geórgia, onde encontraram “armas de mão e armas longas” que foram levadas do campo de tiro, disse o comunicado à imprensa da polícia. (“Arrest made in connection to triple homicide at a Georgia shooting range”)

(“Mom kills son, then self at shooting range”)

Uma mulher do centro da Florida que matou o filho a tiro e depois se suicidou num clube de tiro escreveu em notas de suicídio ao namorado que estava a tentar salvar o filho. “Lamento imenso”, escreveu Marie Moore várias vezes. “Tive de mandar o meu filho para o céu e eu para o inferno.” Ela assinou duas das notas como “Rainha Falhada”. 

As autoridades disseram na quarta-feira que ainda não tinham um motivo para o assassinato-suicídio que chocou colegas clientes e funcionários da linha Shoot Straight em Casselberry, cerca de 10 milhas ao norte de Orlando, no domingo.

Filho baleado na nuca

O vídeo de segurança da carreira de tiro mostra Mitchell Moore, de 20 anos, a fazer pontaria a um alvo numa cabina quando a sua mãe, de 44 anos, se aproxima por trás dele e aponta uma arma à sua nuca. Na imagem seguinte, o filho é visto a cair no chão e um cliente próximo parece alertar os outros enquanto aponta para a carnificina.

A arma utilizada foi alugada no clube de tiro.

De acordo com um relatório da polícia, as imagens anteriores do vídeo de vigilância mostram a mãe e o filho a atirarem e a falarem com outros clientes na pista adjacente. “Parecem estar bem”, disse um dos agentes que responderam à ocorrência. O filho morreu no local. Marie Moore ainda estava viva quando os agentes chegaram ao local, mas morreu mais tarde num hospital.

O pai de Marie Moore, Charles Moore, disse à polícia que Marie Moore tinha um historial de doença mental e que já tinha tentado suicidar-se, tendo sido internada involuntariamente num hospital psiquiátrico em 2002, ao abrigo da Lei Baker do Estado.

Marie Moore refere-se ao incidente em registos que deixou à polícia e ao Shoot Straight, dizendo que passou um ano a entrar e a sair de uma “casa de doentes mentais”, mas insistiu: “Não estou doente”. Os familiares encontraram as cassetes áudio e os três bilhetes de suicídio na segunda-feira e entregaram-nos à polícia.

“Peço desculpa por fazer isto no vosso local de trabalho, mas tinha de salvar o meu filho”, dizia uma das mensagens. “Deus fez de mim uma rainha e eu falhei. Sou um anjo caído. Ele transformou-me no anti-Cristo.”

Moore disse que poderia ter matado apenas a si mesma, mas sentiu que tinha que “salvar” seu filho e fazê-lo de forma pública para que o mundo também pudesse ser salvo. “Espero que quando eu morrer, haja 1.000 anos de paz”. (“Mom kills son, then self at shooting range”)

DOS PROCEDIMENTOS

    Diante de todos os casos mencionados e de todas as possibilidades existentes de alguém armado atentar contra a vida de policiais ou pessoas inocentes em um ambiente escolar ou de treinamento policial, fica evidente a real necessidade de instituir um professor ou policial armado em treinamentos policiais que envolvam armas de fogo. Desta forma, este professor ou policial responsável pela segurança da linha ou treinamento terá melhores condições, de forma mais rápida e eficiente, de atuar protegendo outras pessoas e policiais que estiverem conduzindo ou em treinamento com armas de fogo ou em ambiente escolar policial, mas para que isso aconteça, devem ser respeitadas algumas regras fundamentais para a segurança e bom andamento dos trabalhos.

Portanto, deverá haver pelo menos um professor armado, que pode ser chamado de professor adjunto de segurança, com arma carregada e alimentada no coldre, carregadores municiados no porta-carregador. Este acumulará as funções de professor adjunto e de segurança da linha ou treinamento, auxiliando o professor chefe de linha e os alunos nas instruções, como também em condições de atuar, caso ocorra alguma ameaça que precise de uma resposta letal imediata. No entanto, são extremamente necessárias algumas cautelas:

É importante ressaltar que esta figura de segurança não pode ser o professor chefe de linha, pois este ficará responsável por coordenar a linha ou treinamento, sendo ele quem demonstrará as técnicas e exercícios utilizando a arma de fogo. Para aumentar a segurança e evitar tiros acidentais, o responsável por portar uma arma de fogo carregada e alimentada deverá ser um professor adjunto.

Deverá ser determinado antes das instruções, no briefing dos professores, para que o professor adjunto de segurança possa se preparar e se equipar da melhor forma para desempenhar esta função.

Esta figura do professor adjunto de segurança deve ser anunciada aos alunos por questões de segurança, já que todos em uma linha ou treinamento são responsáveis por se atentar a todos os aspectos de segurança de treinamentos ou aulas que envolvam armas de fogo. Além disso, visa intimidar qualquer um que tenha intenções de agir de forma letal contra as pessoas presentes.

Um dos pontos mais importantes e principais é que o professor adjunto de segurança não pode, em hipótese alguma, sacar sua arma, a não ser em situações que envolvam responder a uma ameaça letal intencional. Em outras palavras, exceto essa condição, esse professor não poderá sacar o seu armamento, que estará ‘quente’, para qualquer tipo de demonstração, explicação ou ensinamento. Dito isso e para evitar qualquer tipo de incidente de tiro, caso o professor adjunto de segurança queira apresentar, demonstrar ou ensinar algo que precisa de uma arma de fogo para treinamento, este deverá fazê-lo com uma arma de treinamento ou fria que possa estar sendo utilizada pelo chefe de linha, professor adjunto ou que esteja disponível apenas para demonstrações.

Ademais, as possibilidades e contextos são inúmeros, por isso, é inviável prever ou cobrir todos os casos que podem envolver situações de aulas em estandes de tiros diversos. Logo, os casos omissos ou não previstos devem ser analisados e adaptados, desde que seja mantida a segurança em todos os sentidos, desde situações de incidentes de tiro até deixar uma linha ou pessoas em um treinamento de armas de fogo completamente vulneráveis e desprotegidas contra diversos tipos de ameaças possíveis.

CONCLUSÃO 

     Portanto, as perguntas que ficam para reflexão: E se um aluno com problemas de saúde mental surtar em um estande de tiro e resolver atirar contra os colegas? Se todos os professores, que são os garantidores e responsáveis por aquele ambiente, estiverem com armas de treinamento, armas frias e carregadores sem munições, pior, se as armas de fogo estiverem longe, quem vai neutralizar a ameaça e garantir que pessoas não sejam vitimizadas?

E se, em um treinamento continuado de tiro em uma região dominada pelo crime organizado, for invadido por bandidos armados com a finalidade de roubar as armas de fogo de policiais, como esses agentes de segurança poderão agir e se defenderem, caso não esteja nenhum policial em condições imediatas de responder ao fogo?

Por fim, se algum policial que estiver sendo treinado efetuar um disparo incidental em sua própria mão e precisar ser levado rapidamente para o hospital, o professor que acompanhará o aluno irá se deslocar em uma viatura caracterizada com uma arma de treinamento ou irá perder um tempo precioso de atendimento hospitalar da vítima para buscar uma arma de fogo e se preparar efetivamente da forma correta que um policial deve estar ao se deslocar em uma viatura policial caracterizada, que é armado e equipado?

Enfim, estes são alguns dos questionamentos que precisam ser feitos por todo aquele que desempenha um papel de professor e realiza um treinamento envolvendo armas de fogo, pois na função policial, a previsibilidade, o planejamento e o preparo fazem toda a diferença entre a vida e a morte, entre uma boa ação policial e uma ação desastrosa.

Dessa maneira, fica evidente a real necessidade de uma pessoa armada e condições em treinamentos que envolvam armas de fogo ou em linhas de tiro nos estandes de tiros, já que desta forma haverá uma melhor garantia de segurança e melhores condições de resposta rápida a qualquer tipo de ameaça letal intencional que possa vitimizar alunos e professores.

REFERÊNCIAS

FENAPEF. Saúde Mental dos Policiais e a Necessidade de Mudanças Urgentes. Disponível em: https://fenapef.org.br/saude-mental-dos-policiais-e-a-necessidade-de-mudancas-urgentes#:~:text=A%20pesquisa%20tamb%C3%A9m%20detectou%20que,alto%20dentro%20da%20Pol%C3%ADcia%20Federal. Acesso em: 14 de novembro de 2023

FOLHA DE S.PAULO. PRF vê suicídios crescerem entre agentes enquanto esconde dados de afastamento por doença mental. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/11/prf-ve-suicidios-crescerem-entre-agentes-enquanto-esconde-dados-de-afastamento-por-doenca-mental.shtml. Acesso em: 14 de novembro de 2023

DIÁRIO DO NORDESTE. Agente da PF executa dois colegas no pátio da Delegacia de Tabatinga. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/agente-da-pf-executa-dois-colegas-no-patio-da-delegacia-de-tabatinga-1.11300. Acesso em: 14 de novembro de 2023

G1. Policial civil mata quatro colegas de trabalho e se entrega em seguida no Ceará. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2023/05/14/policial-civil-mata-quatro-colegas-de-trabalho-e-se-entrega-em-seguida-no-ceara.ghtml. Acesso em: 14 de novembro de 2023

G1. Criminosos roubam arma de agente próximo à sede da Polícia Federal em Belém. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/criminosos-roubam-arma-de-agente-proximo-a-sede-da-policia-federal-em-belem.ghtml. Acesso em: 14 de novembro de 2023

G1. Metralhadoras do Exército que podem derrubar aeronaves são furtadas de base militar em Barueri (Grande SP). Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/10/13/metralhadoras-do-exercito-que-podem-derrubar-aeronaves-sao-furtadas-de-base-militar-em-barueri-grande-sp.ghtml. Acesso em: 14 de novembro de 2023

G1. Assassino do caso Sniper americano é condenado à prisão perpétua. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/02/assassino-do-caso-sniper-americano-e-condenado-a-prisao-perpetua.html. Acesso em: 14 de novembro de 2023

CNN. Georgia shooting range triple homicide: Man kills 3 people, including his wife and son, at a shooting range, sheriff says. Disponível em: https://edition.cnn.com/2022/04/15/us/georgia-shooting-range-triple-homicide/index.html. Acesso em: 14 de novembro de 2023

NBC News. Binghamton shooting: 13 dead, including gunman, in Binghamton, NY, immigrant center rampage. Disponível em: https://www.nbcnews.com/id/wbna30109090. Acesso em: 14 de novembro de 2023

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