Com número 1 do Hezbollah morto por Israel, posição de Teerã fica consideravelmente enfraquecida no Oriente Médio. Para Guga Chacra, “decapitação” do grupo extremista equivale à perda de uma “bomba atômica”. Iranianos se reúnem em Teerã segurando cartazes com o retrato de Hassan Nasrallah, líder do grupo extremista Hezbollah
Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via Reuters
A morte do líder do grupo Hezbollah, Hassan Nasrallah, confirmada neste sábado (28), tem um peso político maior do que a de Osama bin Laden ou de Saddam Hussein, enfraquece consideravelmente a posição do Irã na região e faz Teerã apostar todas as suas fichas em seu programa nuclear, segundo analistas.
Nasrallah e boa parte das lideranças do grupo extremista foram mortos em um bombardeio promovido por Israel em Beirute na sexta-feira (27).
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“A morte do Hassan Nasrallah tem impacto político maior do que o de Osama bin Laden, maior do que a de Qassem Suleimani, comandante das Guardas Revolucionárias Iranianas, maior do que de Saddam Hussem, maior do que do Muammar Qaddafi. É a morte de uma liderança no Oriente Médio de maior impacto, seguramente, no século 21”, diz Guga Chacra, comentarista da GloboNews.
Para Guga Chacra, Narsallah, comandante do Hezbollah desde 1992 era “insubstituível”, e o ataque de sexta fez o grupo ser “decapitado”. O consequente enfraquecimento do grupo extremista que atua no Líbano equivale à perda de uma “bomba atômica” para o Irã, principal inimigo de Israel no Oriente Médio.
“O Irã não tem bomba atômica. O Hezbollah sempre foi uma espécie de bomba atômica do Irã, existente ali na fronteira com Israel para uma possível guerra contra o Israel ou os EUA, [para] servir como uma arma, para dissuadir Israel e os EUA de possíveis ofensivas contra o Irã. Isso não existe mais”, afirma Guga.
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O partido político e grupo paramilitar era visto até duas semanas atrás como “a mais poderosa milícia do planeta Terra”, segundo Guga. Ele é constituído majoritariamente por xiitas, vertente muçulmana à qual também pertencem os aiatolás que comandam o regime iraniano. Assim como os houtis no Iêmen, o Hezbollah é financiado majoritariamente por Teerã.
“O Hezbollah nunca existiu pra defender os interesses dos palestinos. O Hezbollah nunca existiu pra defender os direitos dos libaneses. O Hezbollah existe para defender os interesses do Irã”, diz o comentarista da GloboNews.
A dúvida, segundo Guga Chacra, é se Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, vai tentar fazer com que a guerra já travada no Oriente Médio com o Hamas, em Gaza, e com o Hezbollah, no Líbano, chegue também ao Irã.
“O Netanyahu optou por aquilo que se chama de guerra total”, afirma. “E ele sabe que, por mais que os EUA sejam contrários a uma guerra contra o Irã, os EUA teriam que sair em defesa de Israel.”
Resposta iraniana
Também à GloboNews, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitélio Brustolin, afirma que a resposta iraniana depende da evolução de seu programa nuclear.
“Algum movimento do Irã deve vir, especialmente se o Irã conseguir fabricar sua primeira bomba nuclear, ou pelo menos [fabricar ogivas] em alguma quantidade maior, chegando a um nível próximo ao da Coreia do Norte, que hoje tem 50 ogivas.”
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Apesar de ser um objetivo conhecido de Teerã, a perspectiva de o país se tornar uma potência nuclear encontra resistência em todo o mundo, inclusive de aliados.
“Imagine o Irã, que é um país que usa grupos terroristas como instrumento de política externa, com armas nucleares. A gente começa a falar de terrorismo nuclear. Não é algo que interessa a ninguém, nem mesmo à Rússia.”
Futuro líder do Hezbollah
Segundo Brustolin, assim que se reorganizar, o Hezbollah deve nomear Hashem Saffiedine, um primo de Nasrallah, treinado no Irã, como seu novo líder.
“Esse primo do Nasrallah, que hoje tem 60 anos, ele chefia o conselho executivo do Hezbollah, chefia a parte financeira do Hezbollah. Ele está na linha sucessória desde os anos 90”, diz o professor.
“Não é certo ainda, mas é muito provável que o próximo líder do Hezbollah seja o [Hashem] Safieddine.”
Khamenei promete vingança
Líder supremo do irã, o aiatolá Ali Khamenei, em reunião com equipe do presidente Masoud Pezeshkian, em Teerã, na terça (27)
Escritório do Líder Supremo do Irã/via AP
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse neste sábado (28) que a morte de Nasrallah “não ficará sem vingança”. O Irã decretou luto oficial de cinco dias pela morte do líder.
Mais cedo, o Khamenei já havia dito que o Líbano fará Israel “se arrepender” dos ataques em série promovidos contra o país desde semana passada,
Khamenei disse que é obrigação de todo muçulmano apoiar o povo do Líbano e o Hezbollah “com quaisquer meios que tenham” e ajudar a confrontar o “regime usurpador, opressivo e perverso” de Israel.
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Os bombardeios de Israel ao Líbano, segundo o governo do país, têm como alvo o grupo extremista Hezbollah — que nasceu no Líbano, mas é financiado pelo Irã e aliado do Hamas. No entanto, os ataques já deixaram mais de 700 mortos e provocaram o maior êxodo de libaneses desde a guerra de 2006.
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O líder do Irã afirmou que o destino da região “será determinado pelas forças de resistência, com o Hezbollah na vanguarda”.
“Todas as forças na região estão ao lado e apoiam o Hezbollah. Deixe os criminosos saberem que eles são muito insignificantes para causar qualquer dano grave à forte estrutura do Hezbollah no Líbano”, disse Khamenei.
Khamenei também disse que Israel “não aprendeu nenhuma lição com a guerra criminal de um ano em Gaza”.
Histórico
Os conflitos começaram em 7 de outubro do ano passado, quando o grupo extremista Hamas atacou uma festa rave em Israel e outros pontos do país, deixando mais de 1.200 mortos e sequestrando centenas de israelenses.
Israel passou a atacar a Faixa de Gaza na sequência, alegando que o alvo eram integrantes do Hamas. No entanto, os ataques que ocorrem desde então devastaram a região da e deixaram mais de 40 mil palestinos mortos, a grande maioria de civis.
Em apoio ao Hamas, o Hezbollah também começou a atacar Israel já a partir de 8 de outubro. O conflito entre as Forças de Defesa de Israel e o grupo libanês segue desde então, mas se intensificou na semana passada, após explosões em série de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah, que acusam Israel pelo ataque.
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Alex Lorel
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