Venezuela convoca embaixador do país no Brasil e cita ‘declarações intervencionistas e grosseiras’ do governo brasileiro

Venezuela convoca embaixador do país no Brasil e cita ‘declarações intervencionistas e grosseiras’ do governo brasileiro

Na diplomacia internacional, convocar embaixador representa repreensão a país. Tensão com Venezuela começou após Lula não reconhecer vitória de Maduro nas eleições, criticadas pela comunidade internacional pela falta de transparência. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, pede para que população desinstale o WhatsApp
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
A Venezuela convocou nesta quarta-feira (30) seu embaixador em Brasília para retornar ao país. Em comunicado, o governo venezuelano também classificou as falas do assessor da Presidência Celso Amorim sobre “quebra de confiança” entre Brasil e Venezuela como “declarações intervencionistas e grosseiras”.
A convocação de um embaixador é uma espécie de repreensão de um país a outro na linguagem diplomática internacional. A atitude desta quarta-feira é o episódio mais recente da crise diplomática entre os governos de Brasil e Venezuela.
As tensões se intensificaram após a eleição presidencial venezuelana, quando Maduro foi declarado vencedor em um resultado contestado pela oposição e por órgãos internacionais, com acusações de falta de transparência.
A declaração de Celso Amorim questionada pelo governo venezuelano foi dada em audiência na Câmara dos Deputados nesta terça-feira. O governo Lula insiste na necessidade de apresentação das atas eleitorais, que comprovariam o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), para reconhecer a vitória de Maduro no pleito.
Na semana passada, o Brasil se posicionou contra a entrada da Venezuela no Brics durante cúpula realizada em Kazan, na Rússia.
O governo Maduro citou nominalmente Amorim no comunicado e afirmou que declarações dadas pelo assessor especial da Presidência “constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”.
“Amorim tem se comportado mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano e se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”, afirmou o comunicado.
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Além de chamar de volta o diplomata que está em Brasília, o governo venezuelano também convocou o representante de negócios do Brasil para dar explicações.
O governo brasileiro não reagiu à convocação até a a última atualização desta reportagem.
Relações estremecidas
Nas eleições de julho, Edmundo González foi o candidato da coalizão de oposição que disputou as eleições presidenciais contra Maduro. Corina Machado é a principal opositora do presidente venezuelano e foi impedida de concorrer pela Suprema Corte em janeiro.
Citando um possível ataque hacker, o CNE se recusou a divulgar as atas eleitorais que mostram os votos depositados nas urnas, mas declarou Maduro vencedor. A oposição reuniu atas por conta própria que atestariam a vitória de González.
O governo brasileiro atuou como observador internacional das eleições, assim como o Centro Carter. O Brasil cobra a divulgação das atas para considerar válidos os resultados do CNE.
Já o Centro Carter afirma que o pleito “não atendeu aos padrões internacionais de integridade e não pode ser considerado democrático”, e que a autoridade eleitoral “demonstrou claro viés” em favor do atual presidente, Nicolás Maduro.
Desde então, Maduro e aliados têm dado declarações hostis contra o Brasil, membros do governo Lula e funcionários do Itamaraty.
Veja a íntegra do comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano:
“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos Brics em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.
Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.
Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.”
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