Brasil e Venezuela vivem crise diplomática, com críticas públicas, após Lula ter cobrado divulgação de atas eleitorais. Convocação poderia piorar relação, avaliam especialistas. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela: Brasil e país vizinho atravessam crise diplomática
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
Integrantes do Palácio do Planalto e do Ministério das Relações Exteriores disseram à GloboNews nesta segunda-feira (4), de forma reservada, que o governo brasileiro, por ora, não tem intenção de chamar de volta a embaixadora em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira.
🔎Na linguagem diplomática, quando um país chama o embaixador de volta, seja em definitivo ou para consultas por determinado período, esse ato representa que um governo quer demonstrar ao outro sinais de incômodo e até reprimenda.
Geralmente, quando isso acontece sem que haja uma ruptura formal das relações diplomáticas dos países, algum funcionário com status inferior ao de embaixador, como o encarregado de negócios, assume o comando da representação diplomática.
Na semana passada, diante do acirramento nas relações diplomáticas entre os dois países, o regime de Nicolás Maduro chamou de volta a Caracas o embaixador em Brasília, Manuel Vadell.
Na ocasião, o país vizinho argumentou que ter tomado a medida em razão de “declarações intervencionistas e grosseiras” do governo brasileiro.
Em julho, após a votação no país, o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano reconheceu a vitória de Maduro, mas não divulgou as chamadas atas eleitorais.
Além disso, a Suprema Corte do país, alinhada a Maduro, também reconheceu sua vitória e proibiu a divulgação das atas, que, segundo a oposição, demonstrariam a vitória de Edmundo González.
Diante disso, o presidente Lula passou a cobrar publicamente a divulgação das chamadas atas eleitorais. Além disso, o Brasil articulou nos bastidores para que a Venezuela não entrasse no Brics, e o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse que houve “quebra de confiança” nas relações entre os dois países.
Brasil x Venezuela: a cronologia da crise entre os dois países
Nesse contexto, na semana passada, em um ato de um órgão de governo e não da diplomacia, a Polícia Bolivariana da Venezuela publicou uma imagem com a bandeira do Brasil e a silhueta de um homem que aparenta ser o presidente Lula com a seguinte mensagem: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal.”
Em resposta, o Itamaraty divulgou nota em que diz ver com “surpresa” o tom ofensivo adotado pela Venezuela contra o Brasil.
Analistas veem pior momento das relações
Venezuela volta a subir o tom contra governo brasileiro
Diplomatas, analistas e professores ouvidos pela GloboNews avaliam que o momento na relação com a Venezuela é o mais “tenso” desde o começo do terceiro mandato do presidente Lula, em 2023. Eles divergem, contudo, sobre a possibilidade de uma ruptura diplomática.
Segundo um diplomata, não há “chance alguma” de o Brasil romper as relações com a Venezuela, a menos que o país vizinho adote essa medida drástica.
Já o professor Amâncio Jorge, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), entende que a estratégia do governo brasileiro é a de tentar “diminuir a temperatura”. Ele, contudo, avalia que há o “risco” da ruptura diplomática em razão das medidas adotadas pelo regime de Maduro.
Hussein Kalout, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirma que o Brasil adotou uma estratégia “equivocada” nas relações diplomáticas com a Venezuela desde que o presidente Lula tomou posse para o terceiro mandato.
Ele afirma ainda que o governo brasileiro “antecipou legitimidade em demasia” a Maduro, “elevou de forma muito rápida e sem a ponderação necessária” o prestígio do presidente venezuelano e buscou reintegrar o regime “achando que o Brasil teria influência, o que não se materializou”.
Para Pio Pena Filho, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o governo brasileiro tem uma oportunidade “de ouro” para se distanciar do governo de Nicolás Maduro.
Ele ressalta, porém, que a tradição diplomática brasileira é não desafiar nenhum governo e não “encarar” chefes de Estado.
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Alex Lorel
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